A história do gangsta rep


Gangsta rep ou gangster rep é um subgênero da música hip hop com temas e letras que geralmente enfatizam o estilo de vida “gangsta”. O gênero evoluiu do hip hop hardcore em uma forma distinta, pioneira em meados da década de 1980 por reppers como Schoolly D e Ice-T, e foi popularizado durante a década pelo grupo N.W.A. Após a atenção nacional que Ice-T e o N.W.A atraíram no final da década de 1980 e início da década de 1990, o gangsta rep tornou-se o subgênero mais comercialmente lucrativo do hip hop. Muitos (se não a maioria) dos artistas do gangsta rep se orgulham abertamente de suas associações com várias gangues de rua ativas como parte de sua imagem artística, sendo Bloods e Crips os mais comumente representados.

O assunto inerente ao subgênero causou muita controvérsia. A crítica vem dos comentaristas da ala esquerda e da direita, bem como líderes religiosos, que acusaram o gênero de promover o crime, assassinato em série, assassinato, violência, palavrões, dependência sexual, homofobia, racismo, promiscuidade, misoginia, estupro, gangues de rua, má conduta, tiroteios, vandalismo, roubo, tráfico de drogas, abuso de álcool, abuso de substâncias, desconsiderando a aplicação da lei, materialismo e narcisismo.

Os gangsta reppers muitas vezes se defendem argumentando que estão descrevendo a realidade da vida. Eles também são famosos (ou infames) por parecerem mais hardcore em comparação aos conceitos e temas iniciais dos outros artistas do hip-hop, e são conhecidos por dizer coisas que muitas vezes são consideradas tabu; por exemplo, o grupo N.W.A gravou a famosa música “Fuck tha Police” justamente para enfatizar a brutalidade policial e o racismo.

Em áreas de alta criminalidade, a colocação desses personagens constituídos é uma ameaça à vida, mas o fato de os gangsta reppers terem contado as histórias pelos outros, muitas vezes é visto como conquistar o respeito pela conscientização sobre a gravidade do crime. Muitos deles argumentam que no mundo de seu gênero, existem as emoções e as perspectivas de um povo cujo sofrimento é frequentemente ignorado e menosprezado pela sociedade. O gangsta rep, alguns argumentam, foi um efeito das vários abusos e irregularidades contra afro-americanos em bairros desfavorecidos. Os vários distúrbios provocados pelo golpe de Rodney King e a absolvição dos policiais responsáveis ​​pelo espancamento provocaram raiva e indignação em uma área que já estava furiosa. O gangsta rep agiu como uma válvula de escape para que tais pessoas pudessem se expressar com raiva e não com medo de que fossem silenciados por dizer a verdade. Muitas vezes, eles usavam isso para contar as histórias de suas vidas, que às vezes incluíam forte violência, hipersexualidade e abuso de drogas.


Ice-T e Schoolly D

Tracy “Ice-T” Morrow nasceu em Newark, Nova Jersey, em 1958. Quando adolescente, mudou-se para Los Angeles, onde se tornou proeminente na cena do hip hop da costa oeste. Em 1986, dropou a música “6 in the Mornin’” que foi muitas vezes considerada como uma das primeiras músicas do gangsta rep. Ice-T era MC desde o início dos anos 80, mas deu os primeiros passos no gangsta rep após ter sido influenciado pelo repper da Filadélfia, Schoolly D, após dropar seu álbum de 1985, Schoolly D — que é considerado o pioneiro do subgênero.

O álbum de estreia de Schoolly D, especialmente a música “PSK What Does It Mean?”, influenciariam fortemente não apenas Ice-T, mas também Eazy-E e N.W.A (mais notavelmente na música “Boyz-n-the-Hood”), bem como os Beastie Boys em seu álbum Licensed to Ill (1986).


Boogie Down Productions e N.W.A

Boogie Down Productions dropou seu primeiro single, “Say No Brother (Crack Attack Do Not Do It)” em 1986, e logo veio as outras “South-Bronx/P is Free” e “9mm Goes Bang” no mesmo ano. A última é a canção mais temática das três (nela, KRS-One se orgulha de atirar em um traficante de crack até a morte (em legítima defesa). O álbum Criminal Minded veio em 1987, e foi o primeiro álbum de rep a ter armas de fogo em sua capa. Pouco depois deste álbum, o DJ do BDP, Scott LaRock, foi baleado e morto.

O primeiro álbum de rep do N.W.A foi Straight Outta Compton, em 1988. Straight Outta Compton estabeleceu o hip hop da Costa Oeste como um gênero vital e lacrou Los Angeles como um rival legítimo da capital de longa data do hip hop, Nova York. Straight Outta Compton provocou a primeira grande controvérsia em relação às letras do hip hop quando sua música “Fuck tha Police” — que causou tanta polêmica a ponto de receberem uma carta do diretor assistente do FBI, Milt Ahlerich, expressando fortemente o ressentimento da aplicação da lei sobre a música. Devido à forte influência de Ice-T e N.W.A, o gangsta rep é muitas vezes creditado como um fenômeno originalmente da Costa Oeste.

No início da década de 1990, o ex-membro do N.W.A, Ice Cube, influenciaria ainda mais o gangsta rep com seus álbuns solos hardcore e sociopolíticos, o que sugeria o potencial do gangsta rep como meio político para dar voz aos jovens do centro da cidade. O segundo álbum do N.W.A veio em 1991, Efil4zaggin (disponibilizado após a saída de Cube do grupo), e abriu o primeiro lugar como primeiro álbum de gangsta rep chegando ao #1 nas paradas da Billboard.

Além do N.W.A e Ice-T, os reppers Too Short, Kid Frost e o grupo latino Cypress Hill também foram pioneiros da Costa Oeste. Above The Law também desempenhou um papel importante no movimento do gangsta rep, como em seu álbum de estreia de 1990, Livin’ Like Hustlers, bem como a aparição do N.W.A em 1991 no Efil4zaggin, que anunciou o domínio do gênero na década de 1990, começando pelo The Chronic do Dr. Dre.

O grupo Run-D.M.C é muitas vezes creditado com a popularização de atitudes e letras de hardcore e confronto na cultura do hip hop e foram um dos primeiros grupos de rep a se vestir com roupas de rua chamativas e semelhantes a gangues. Os seus estilos descolados e inspirados no rock também foram importantes para estabelecer o estilo inicial da produção do gangsta rep.

O grupo Public Enemy apresentou letras agressivas e carregadas politicamente, que tiveram uma influência especialmente forte nos gangsta reppers como Ice Cube e no hardcore da Costa Leste, como Rakim, Kool G Rap, Big Daddy Kane, Slick Rick e LL Cool J.

O grupo Geto Boys, surgiu em torno do final da década de 1980 e fez músicas contendo os dois temas do crime e da violência e comentários sociopolíticos. O grupo lançou notavelmente uma música para o estilo de rep mafioso com “Scarface”, uma faixa centrada na venda de cocaína e matança de membros de gangues rivais. Os Geto Boys também são conhecidos por ser o primeiro grupo de rep a enfatizar o filme de 1983, Scarface, um filme que se tornou substrato perfeito para vários samples na década de 1990.


1990—presente

G-Funk e Death Row Records

Em 1992, o ex-membro do N.W.A, Dr. Dre, dropou o The Chronic, um vendedor formidável (eventualmente triplicando a platina), que mostrou que o gangsta rep explícito poderia ter um demasiado apelo comercial, assim como mais reppers orientados para o pop, como MC Hammer, The Fresh Prince e Tone Loc. O álbum estabeleceu o domínio da Costa Oeste no gangsta rep e do novo selo pós-N.W.A de Dre, Death Row Records (de propriedade de Marion “Suge” Knight), já que o álbum de Dre apresentou um monte de novos reppers promissores da Death Row — Snoop Doggy Dogg, Nate Dogg, Daz Dillinger, RBX, Kurupt, The Lady Of Rage, Danny Boy, etc. O álbum também foi o ímpeto para o subgênero G-Funk, uma forma lenta e hipnótica de fazer hip hop, que dominou as paradas de rep por um bom tempo. O single “Nuthin’ But a G Thang” foi um sucesso, com o seu videoclipe divertido, como uma festa caseira, tornando-se um “xodó” da MTV na época, que enfatizava mais o rock.

Uma das principais estrelas do gênero foi o condecorado de Dre, Snoop Doggy Dogg, disponibilizando Doggystyle (1993), cujos temas exuberantes e direcionados para festas criaram músicas como o hino das boates, “Gin & Juice”, e se tornando um dos melhores hits em todo o país.

Em 1994, Warren G foi outro músico do G-Funk junto com o falecido Nate Dogg, que participou do primeiro álbum de Warren, Regulate... G Funk Era. Outros artistas bem-sucedidos do G-Funk incluem Spice 1, MC Eiht e MC Ren, todos alcançando posições decentes no Billboard 100, apesar de não estarem associados com Death Row.

Em 1996, Tupac assinou com a Death Row e dropou o primeiro álbum duplo da história do hip hop até então, o multi-platinado All Eyez On Me. Não muito tempo depois, seu chocante assassinato trouxe uma força gangsta para as manchetes nacionais e impulsionou o seu álbum póstumo The Don Killuminati: The 7 Day Theory (disponibilizado sob o apelido de “Makaveli”), que exibiu estranhamente uma imagem de 2Pac sendo crucificado na capa para o topo das paradas.


Rep mainstream

Antes do final da década de 1990, o gangsta rep, enquanto era um gênero de venda enorme, foi considerado fora do pop mainstream, comprometido em representar a experiência do centro da cidade e não “vender” para as paradas pop. No entanto, o aumento da Bad Boy Records, impulsionado pelo enorme sucesso do álbum de Sean “Puffy” Combs de 1997, No Way Out, sob a atenção da mídia gerada pelos assassinatos de 2Pac e The Notorious B.I.G., sinalizou uma grande mudança estilística no gangsta rep (ou como é referido na Costa Leste, hardcore rep), se transformou em um novo subgênero do hip hop que se tornaria ainda mais comercialmente bem-sucedido e popularmente aceito.

O sucesso da era anterior, um tanto controverso, desfrutado pelas populares músicas do gangsta rep como “Gin and Juice”, deu lugar ao sucesso do rep mais mainstream, sendo amplamente aceito nas paradas do pop no final da década de 1990. Por exemplo, entre a disponibilização do álbum de estreia do repper do Brooklyn The Notorious B.I.G, Ready To Die (1994) e seu outro projeto póstumo, Life After Death (1997), seu som mudou de uma produção mais escura e tensa, com letras que projetavam desespero e paranóia, para um som mais limpo, mais descontraído, formado para o consumo popular (embora as referências a armas, o tráfico de drogas e a vida como um bandido na rua permanecessem).

Os refrões de estilo R&B e os samples instantaneamente reconhecíveis de músicas soul e pop bem notórias das décadas de 1970 e 1980 foram os apogeus deste tipo de som, que foi exibido principalmente no trabalho de produção de Puffy para The Notorious B.I.G. “Mo Money, Mo Problems”, Mase “Feels So Good” e artistas não-Bad Boy, como Jay-Z “Can I Get A...” e Nas em “Street Dreams”.

Muitos dos artistas que alcançaram esse sucesso dominante na década de 2000, como Jay-Z, DMX, 50 Cent e G-Unit, originaram-se da cena rep da Costa Leste da década de 1990 e foram influenciados por artistas hardcore como The Notorious B.I.G., Wu-Tang Clan e Nas. Mase e Cam’ron eram típicos de um flow casual mais relaxado que se tornou a norma gangsta-pop. Por outro lado, outros reppers como Eminem e DMX, tiveram sucesso comercial no final da década de 1990, provocando histórias cada vez mais macabras de morte e violência, mantendo a relevância comercial tentando ser controversa e subversiva, crescendo no estilo de rep horrorcore nascido no final década de 1980.


Manancial: Wikipedia

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